sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Jack Bruce

Muito embora muitos sintam-se tentados a classificar esse multi-instrumentista, compositor e arranjador com um músico de rock, o jazz e o blues são suas paixões e a base de toda sua criação, numa carreira que começou junto com o próprio blues britânico.

John Symon Asher Bruce nasceu na cidade portuária de Glasgow na Escócia em 14 de maio de 1943. Seus pais eram músicos e viajaram muito pelos EUA e Canadá. Por esse motivo Jack frequentou 14 escolas diferentes até terminar sua educação formal na Bellahouston Academy e na Royal Scottish Academy of Music, na qual recebeu uma bolsa de estudos para cello e composição.Aos 17 anos, contudo, ele deixou essa academia e também a cidade natal por conta da pobreza e pela falta de interesse dos professores em suas idéias.
Jack viajou para a Itália e depois Inglaterra, tocando contra-baixo acústico em bandas dançantes e grupos de jazz, e juntou-se à sua primeira banda importante no ano de 1962 em Londres.Era a Alexis Korner's Blues Inc. onde já tocava Charlie Watts, que depois formaria o Rolling Stones.Sobre a importância de Alexis Korner, costuma-se dizer que o movimento do blues britânico teria existido mesmo sem ele, mas bandas como o Cream, Rolling Stones e Mayall Bluesbreakers certamente não teriam o mesmo som.

Em 63 ele deixou a Alexis para formar uma banda com o organista Graham Bond, o guitarrista John McLaughlin e o baterista Ginger Baker. Essa banda seria a semente da Graham Bond Organisation, estabelecida após a entrada de Dick Heckstall-Smith(Colosseum) em substituição à McLaughlin. Nela ele permaneceu cerca de 3 anos, gravou dois LPs e alguns singles mas sem nenhum sucesso comercial.Contudo, essa banda também exerceu grande influência em caras como Keith Emerson, Jon Lord, Bill Bruford e John Bonham.Aliás, diga-se, foi Ginger Baker quem o compeliu a sair. Eles eram conhecidos pela hostilidade entre si e existem várias histórias de sabotagem e brigas no palco. A coisa chegou a um ponto que não deu mais pro Jack ficar.
Após a saída, Jack precisou recusar um convite de Marvin Gaye para integrar sua banda nos EUA por culpa de seu primeiro casamento que já estava marcado. Então, ele juntou-se à Bluesbreakers de John Mayall, onde conheceu Eric Clapton, e com a qual gravou várias faixas em 66 que foram incluídas em dois discos: Primal Solos e Looking Back.Seguindo, ele se juntou a Manfred Mann e com ele gravou dois singles em 66, Pretty Flamingo e Instrumental Asylum, e um LP em 67 chamado Soul Of Mann. A experiência com Mann também lhe rendeu algumas lições comerciais, de como fazer uma música de sucesso e lidar com o mercado.Por essa associação ele recebeu duras críticas de John Mayall.
Mas aí, Ginger Baker convidou Jack para formar um trio com Clapton e este insistiu que Jack deveria ser o cantor.


O Cream vendeu cerca de 35 milhões de discos ao longo de apenas dois anos e recebeu o primeiro disco de platina da história pelo álbum Wheels Of Fire. Jack escreveu e cantou a maioria das músicas, incluindo I Feel Free, White Room, Politician e também um dos riffs de guitarra mais tocados, o de Sunshine Of Your Love.Separaram-em novembro de 68 no auge da popularidade com Jack sentindo que tinha se afastado muito dos seus ideais e querendo redescobrir suas raízes musicais e sociais.
No entanto, ninguém pode se furtar a dizer que a banda mudou a cara do rock & roll e trouxe o blues para uma audiência muito maior.Graças aos arranjos que Bruce fêz para clássicos como Crossroads de Robert Johnson, I'm So Glad de Skip James, Spoonful de Willie Dixon e Born Under a Bad Sign de Albert King, o grupo ajudou a popularizar o blues e deu a direção para bandas que viriam a seguir, como o Led Zeppelin, por exemplo.

Em 69 ele começou a carreira solo.Primeiro com o àlbum Songs For A Taylor e em seguida pondo em prática sua política de tocar simultaneamente no rock, jazz e clássico, três componentes do seu estilo, mais umas doses de world music e música étnica.
Por essa época, durante a turnê americana com sua primeira banda própria -Jack Bruce & Friends, a qual incluía o grande guitarrista Larry Coryell e o baterista de Hendrix, Mitch Mitchell - Jack foi apresentado à Tony Williams por John McLaughlin.Williams é um dos maiores bateristas que o jazz e fusion já tiveram e Jack juntou-se à ele e McLaughlin no The Tony Williams' Lifetime, uma banda excepcional que contava com outro grande instrumentista, o organista Larry Young.Ele descreve essa participação como "o momento musical de sua vida".

Tony Williams e Jack Bruce vinham mantendo conversas com Jimi Hendrix sobre formar uma "dream band" mas Hendrix morreu, por outros motivos a Lifetime acabou se separando, e por conta desses dois fatos Jack passou por um período de grande tristeza e frustração.
Ele encontrou ânimo voltando às raízes pesadas com Leslie West e Corky Laing, ex-Mountain, no West,Bruce & Laing.
Curiosamente, apesar do seu descontentamento com o Cream, ele tentou várias vêzes reeditar um power trio.A primeira foi essa com West e Laing; em 81 ele se associou ao fenomenal guitarrista Robin Trower e ao baterista Bill Lordan no B.L.T.; em 82, novamente com Trower mas com Reg Isidore na bateria, em Truce.Mais adiante formou o BBM, como veremos, e agora em 2008, com Trower e Gary Husband, em Seven Moons.
Desde então, Jack liderou muitas bandas ao lado de gente como Carla Blei (uma grande compositora e pianista de jazz, também responsável pelo álbum solo de Nick Mason do Floyd), Mick Taylor (Mayall e Stones), Simon Phillips, Tony Hymas (Jeff Beck), Billy Cobham, David sancious e Gary Moore.Também gravou inúmeros álbuns solo, bem como colaborou em projetos especiais e trabalhou como músico de palco convidado em datas muito bem escolhidas com caras como Lou Reed e Frank Zappa, com quem co-escreveu o álbum Apostrophe.

Em 1991 ele tocou em Viena com Michael Mantler e Mike Gibbs, acompanhados pela Tonkiinstler Symphony Orchestra e completou um tour por todas as capitais da Europa com sua orquestra de jazz-rock-fusion,formada por 13 músicos.Ainda no início dos anos noventa ele aprofundou seu interesse na world music, demonstrado em álbuns como A Question Of Time e Something Els.
Em 1992, no festival Guitar Legends de Sevilha ele se divertiu um bocado tocando ao lado de Bob Dylan, Keth Richars, Steve Cropper e muitos outros amigos.

O ano de 93 foi bastante especial.Começando com sua entrada para o Rock & Roll Hall of Fame como membro do Cream, e terminando com um inspirado concerto em comemoração aos seus 50 anos, do qual participaram inúmeros amigos como Dick Heckstall-Smith, Maggie Reilly e Gary Moore.Esse concerto foi melhor documentado na caixa entitulada Cities of the Heart e serviu de inspiração para Jack formar o BBM com Gary Moore e Ginger Baker, lançando o disco Around The Next Dream que seria um top 10.

Em 1995 Jack concentrou-se em tocar teclados e gravou alguns solos de piano e duos com o organista George Clinton, que tocara anteriormente no Funkadelic e Talking Heads.
Em 96, em Copenhague, ele partipou das primeiras apresentações de um projeto de Michael Mantler chamado School of Understanding, uma espécie de ópera que teve outras apresentações em 98.
Durante o final dos 90, Jack excursionou com várias formações da Ringo Starr's All Star Band junto com os guitarristas Peter Frampton, Todd Rundgren e Dave Edmunds, os tecladistas Gary Brooker(Procol Harum) e Eric Carmen, o baterista Simon Kirke e o multi-instrumentista de sopros Mark Rivera.
Em 1999 e 2000 ele voltou ao estúdio para gravar o álbum Shadows in the Air que alcançou a posição nº 5 na categoria jazz e blues.O elenco convidado para esse álbum incluiu Eric Clapton, Dr John, Gary Moore, Vernon Reid e Changuito Luis Quintana, e a turnê subsequente teve os talentos de Vernon Reid, Bernie Worrell, Robby Ameen, El Negro Horacio Hernandez e Richie Flores.
Em 2002 Jack participou de um projeto de verão chamado A Walk Down Abbey Road, um tributo aos Beatles com a participação de Alan Parsons, Todd Rundgren, Mark Farner, Christopher Cross, Godfrey Townsend, John Beck e Steve Murphy.Em novembro desse mesmo ano ele juntou-se à Uli Jon Roth, Glenn Hughes e Michael Schenker na turnê "Legends of Rock".

2005 também foi um ano bastante especial para ele.Jack reuniu-se aos companheiros de Cream, Baker e Clapton, para a primeira turnê em 37 anos.A banda tocou em quatro noites históricas de maio no Royal Albert Hall e mais três concertos no Madison Square Garden de NY em outubro.

Nessa mesma semana ele recebeu o prêmio Bass Player Lifetime Achievement Award por sua contribuição ao desenvolvimento da técnica no baixo.O outro agraciado foi apenas e tão sómente Ron Carter.
Logo em fevereiro de 2006, Jack recebeu um Grammy especial dedicado ao Cream.

Nos últimos anos Jack Bruce continua envolvido com sua paixão, a música.Em 2007 ele foi agraciado com o título de Doutor em música, conferido por sua escola, a The Royal Scottish Academy of Music and Drama.Em 2008, dois novos álbuns foram lançados: Jack Bruce with the HR Big Band, contendo arranjos para velhas e novas canções executadas pela orquestra alemã de Hessische Rundfunk, e Seven Moons, novo trabalho ao lado do mestre guitarrista Robin Trower e do baterista Gary Husband.

Também foram lançadas duas caixas especiais.A primeira chama-se Spirit e reúne gravações feitas para a BBC, e a segunda, Can You Folow?,é uma retrospectiva de toda a carreira dele e tem 6 CDs.

Nenhum comentário: