sábado, 18 de dezembro de 2010

Savoy Brown - Shake Down (1967)


Savoy Brown é outra banda que integrou o movimento de resgate do blues que aconteceu na Inglaterra à partir da metade dos anos 60, o qual pavimentou o caminho para o surgimento de bandas como o Led Zeppelin, dentre muitas. Curiosamente, ela fez menos sucesso em sua terra natal do que nos EUA, onde lançou a maioria de seus álbuns e excursionou incessantemente desde 43 anos atrás. Atribui-se esse fato às inúmeras mudanças em sua formação ao longo desse tempo, fato relacionado à personalidade extremamente dominante de seu fundador, o guitarrista Kim Simmonds.
Kim começou a ouvir música através dos discos de seu irmão mais velho, Harry, e este começou ouvindo Bill Haley e depois foi se interessando por Rhythm & Blues, particularmente James Brown, Ike and Tina Turner, Jimmy Reed, Otis Rush e Muddy Waters. Aos 13 anos Kim comprou sua primeira guitarra e por si só aprendeu a tocar, imitando os riffs de Chuck Berry. Aos 15 anos, já dominando o instrumento, ele abandonou a escola para assumir um trabalho no Ministério da Defesa.
Um dia ele estava do lado de fora de uma loja de discos na Chinatown londrina quando encontrou-se com outro entusiasta de blues, o gaitista John O'Leary. O'Leary trabalhava para uma indústria química americana e tinha começado na harmônica depois de assistir uma apresentação de Cyril Davies com a Alexis Korner's Blues Incorporated. Eles se tornaram amigos e O'Leary convidou Kim e Harry para uma jam session. Todos ficaram surpresos com a habilidade de Kim, até mesmo seu irmão, que o encorajou a formar uma banda.
A primeira formação tinha Kim Simmonds na guitarra, O'Leary na harmônica, Leo Manning na bateria, o vocalista Brice Portius e o baixista Ray Chappell. Manning e Portius eram negros, o que fez da Savoy uma das primeiras bandas inglêsas com integração racial. Todos então concordaram que o irmão de Kim, Harry,deveria ser o empresário da banda. Eles também acrescentaram um pianista chamado Trevor Jeavons, mas que logo foi substituído por Bob Hall, um músico experiente que tinha sido membro dos Groundhogs quando a banda acompanhou John Lee Hooker e que também acompanhara Jimmy Reed e Little Walter pela Inglaterra.
Eles chamaram a si de Savoy Brown Blues Band para enfatizar sua raiz bluseira de Chicago; o Savoy eles tiraram da gravadora americana Savoy Records, que eles achavam que soava elegante, e o Brown foi pra dar um balanço.
Como para muitas outras bandas, foi muito duro conseguir um espaço para se apresentar mas ao contrário das outras, os irmão Simmonds decidiram abrir seu próprio clube, o Kilroy's, em maio de 66. Eles saíram distribuindo flyers por toda Londres e no começo só uns gatos pingados apareciam o que os forçava a tocar fora também. Harry, que trabalhava como carteiro durante o dia, os levava para tocar na Van dos Correios. Aí ele resolveu publicar a história da banda e do clube no jornal Wandsworth Borough News e o negócio começou a deslanchar. Eles passaram a se apresentar lá toda noite e logo o lugar virou um "point"; Fleetwood Mac e Freddie King tocaram no Kilroy's. Isso acabou chamando a atenção de Mike Vernon, um cara que publicava uma revista sobre blues e soul chamada R&B Monthly, que também era produtor na gravadora Decca e tinha um sêlo próprio chamado Purdah. Ele convenceu Harry a deixá-lo gravar a banda para esse sêlo e em agosto de 66 nos Wessex Studios de Londres eles tiraram 4 faixas, 2 das quais foram lançadas como compacto: I Can't Quit You Baby e I Tried, ambas de Willie Dixon.
Mas o grande lance para eles veio com o convite de Brian Wilcock, que era DJ no Klook's Kleek R&B Club, para que tocassem nos intervalos da apresentação do Cream , em 2 de agosto de 66. Como o Cream tinha estreado oficialmente no 6º National Jazz and Blues Festival em 31 de julho, essa era sua primeira aparição num clube e era o aquecimento para sua turnê, mas foi o Savoy que roubou a cena e à partir daí choveram convites para apresentações. Logo eles estavam tocando em lugares badalados como o clube Marquee, o Metro e até mesmo acompanhando o bluesman Champion Jack Dupree.
Essa formação gravou várias demos e acetatos antes de partir para o primeiro LP e permaneceu estável com excessão do pianista Hall que saiu por causa do seu trabalho diurno - mas acabou voltando em meio expediente quando sua substituição não deu certo - e do gaitista O'Leary que saiu para se juntar à John Dummer's Blues Band. Vários músicos fizeram audição para seu lugar, inclusive um cara chamado "Steve Hackett",porém O'Leary não foi substituído. Adicionaram um segundo guitarrista, Martin Stone, que tinha a banda Stone's Masonry (e o Hackett?!!).
A gravadora Decca assinou contrato com eles e lá pelo meio de 1967 o Savoy já estava nos West Hampstead Studios gravando o primeiro disco, com produção de Mike Vernon. É um disco de covers, tem Rock Me Baby do BB King, It's All My Fault do John Lee Hooker, três do Willie Dixon e apenas uma original, Doormouse Rides the Rails, do Martin Stone; foi gravado em 30 horas ao longo de 3 dias.
O Savoy continuou tocando muito durante a produção do álbum, inclusive com uma dura maratona de 24 shows em 21 dias acompanhando John Lee Hooker e uma estada prolongada em Charlottenlund ao norte de Copenhagen na Dinamarca.

Ray Chappell -baixo
Leo Mannings -bateria
Kim Simmonds -guitarra,harmônica
Martin Stone -guitarra
Bob Hall -piano
Brice Portius -vocal

1 Ain't Superstitious (Dixon)
2 Let Me Love You Baby (Dixon)
3 Black Night (Robinson)
4 High Rise (Bridge,King,Thompson)
5 Rock Me Baby (Josea,King)
6 I Smell Trouble (Robey)
7 Pretty Woman (Williams)
8 Little Girl (Dixon)
9 The Doormouse Rides the Rails (Stone)
10 It's All My Fault (Hooker)
11 Shake 'Em on Down (Brown,Hall)

Savoy Brown - Getting to the Point (1968)


Pela época do lançamento oficial de Shake Down a banda levou um chacoalhão de verdade: Houve um incidente com drogas em Barnstaple, uma cidade do condado de Devon, oeste da Inglaterra. Isto fêz com que Harry Simmonds demitisse seu próprio irmão, Kim. Outras mudanças ocorreram: Chappell e Portius saíram, sendo substituídos por Bob Brunning no baixo e Chris Youlden nos vocais. Brunning tinha tocado no Fleetwood Mac e Youlden numa porção de bandas; ele acrescentou personalidade ao Savoy pois usava uma indefectível cartola e um monóculo. Em seguida foi o Manning quem saiu e em seu lugar na bateria entrou Hughie Flint que tinha estado na Bluesbreakers de John Mayall e na Alexis Korner Band. Finalmente foi o Stone quem saiu, substituído pelo "Lonesome" Dave Peverett.
Peverett nasceu em abril de 43 e morreu em fevereiro de 2000. Ele começou na música ouvindo Bill Haley, Elvis, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, etc., mas acabou se embrenhando pelo blues de Bo Diddley, JL Hooker, Muddy Waters e Lightnin' Hopkins. Aos 16 anos comprou sua guitarra, formou uma banda que tocava em festas que passou por vários nomes até se fixar em Lonesome Jax Blues Band, com o Chris Youlden como membro. Em 67 ele foi tocar com uma banda suíssa e quando voltou se juntou ao Savoy.
Harry e Kim Simmonds fizeram as pazes e com apenas Bob Hall da formação original, a banda entrou no estúdio para gravar o próximo single. O Youlden logo foi se destacando pela criatividade e irreverência, sendo rankeado no mesmo patamar de Rod Stewart ou Long John Baldry. Contudo, logo depois de finalizado o sigle vieram mais mudanças na formação. Ambos Brunning e Flint saíram, discordando do que chamaram de 'criatividade' na contabilidade da banda. Depois de muitas tentativas para escolher um substituto para a bateria(Bill Bruford foi um) e para o baixo, foram escolhidos Rivers Jobe e Roger Earl, respectivamente. O Jobe tinha sido membro da banda Anon, dos futuros fundadores do Genesis, Anthony Phillips e Mike Rutherford.
Em março de 68 começaram as gravações do 2º Lp, Getting to the Point. Ao lado de Kim, o Youlden emergiu como outro líder da banda e - juntos ou individualmente- a dupla compôs a maioria do material. Na edição inglêsa, a capa tinha uma foto do Kim com cara de sacana usando óculos redondos em cujas lentes se viam a figura de um homem negro; a intenção era passar a idéia de que, apesar de brancos, eles viam as coisas como um negro, mas na edição americana as lentes não exibiram o negro em questão. Pois é.


Roger Earle -bateria
Bob Hall -piano
Rivers Jobe -baixo
Lonesome Dave Peverett -guitarra
Kim Simmonds -guitarra,harmônica
Chris Youlden -vocal

1 Flood in Houston
2 Stay With Me Baby
3 Honey Bee (Muddy Waters)
4 The Incredible Gnome Meets Jaxman
5 Give Me a Penny
6 Mr. Downchild
7 Getting to the Point
8 Big City Lights
9 You Need Love (Willie Dixon)
10 Walking by Myself
11 Taste and Try,Before You Buy
12 Someday People

Savoy Brown - Blue Matter (1969)



Em junho de 68 eles lançaram o single "Walking By Myself", agora encurtando o nome da banda para apenas Savoy Brown. Nessa altura a agenda estava lotada e eles faziam não menos que seis concertos por semana com uma resposta sempre entusiástica das platéias.
Em novembro eles dispensaram o baterista Jobe e puseram Tone Stevens em seu lugar. Em janeiro de 69 o Savoy iniciou uma turnê de 10 semanas pelos Estados Unidos. Tocaram no Fillmore East e no Fillmore West, com shows em Chicago e Detroit pelo caminho. Porém na primeira exibição, num pequeno clube de Nova Iorque, eles acharam a platéia meio morna e decidiram jogar o foco no Youlden, dando uma incrementada no visual. Então,além da cartola e monóculo, ele passou a exibir um charuto e usar calças de veludo e um casaco de pele num apelo psicodélico.
Em maio de 69 saiu o Lp seguinte, Blue Matter. Consistia de singles previamente realizados e algumas gravações ao vivo onde o Peverett substitui o Youlder no vocal pois ele estava doente. Segundo a crítica este foi um passo à frente em relação aos anteriores, ultrapassando as limitações dos 12 compassos do blues.

1 Train To Nowhere
2 Tolling Bells
3 She's Got A Ring In His Nose And A Ring On Her Hand
4 Vicksburg Blues
5 Don't Turn Me From Your Door
6 Grits Ain't Groceries (All Around The World)
7 May Be Wrong
8 Louisiana Blues
9 It's Hurt Me Too

Savoy Brown - A Step Further (1969)



Ainda em maio de 69, a banda entrou no estúdio para gravar seu próximo disco, inicialmente chamado de Asylum e depois de A Step Further. Seu lançamento deveria coincidir com o início da segunda turnê americana, marcado para 17 de junho e seu som surpreendeu um pouco por ser mais pesado.Essa turnê consolidou seu prestígio,especialmente diante do público de Detroit onde se tornaram o maior evento desde o Cream.
No regresso à Inglaterra eles embarcaram numa turnê com o Jethro Tull e Terry Reid que durou de 24 de setembro à 29 de outubro e ao final dela o Harry Simmonds mais uma vez demitiu o irmão Kim. Tudo bem, ele voltou logo.

1 Made Up My Mind
2 Waiting In The Bamboo Grove
3 Life's One Act Play
4 I'm Tired - Where Am I
5 Savoy Brown Boogie (Live)- Feel So Good - Whole Lotta Shakin' Goin' On - Little Queenie - Purple Haze - Hernado's Hideaway

Savoy Brown - Raw Sienna (1970)



Em janeiro de 70 o Savoy Brown empreendeu sua terceira turnê americana e ao final dela retornaram à Inglaterra para gravar o álbum Raw Siena. Esse álbum é bem mais complexo que os demais, incorporando mais elementos de jazz nos arranjos como o uso maior dos metais. É considerado seu melhor trabalho e a banda credita esse sucesso à liberdade que tiveram para gravá-lo, produzindo-o eles mesmos.

1 A Hard Way to Go
2 That Same Feelin'
3 Master Hare
4 Needle and Spoon
5 A Little More Wine
6 I'm Crying
7 Stay While the Night Is Young
8 Is That So
9 When I Was a Young Boy

Savoy Brown - Looking In (1970)



Pouco depois do lançamento de Raw Sienna o vocalista Chris Youlden deixou a banda, Dave Peverett assumiu os vocais e mais adiante, depois do ótimo Lp Looking In, foram ele, o baterista Roger Earl e o baixista Tone Stevens que saíram para formar o "Foghat".

1 Gypsy
2 Poor Girl
3 Money Can't Save Your Soul
4 Sunday Night
5 Looking In
6 Take It Easy
7 Sitting An' Thinking
8 Leavin' Again
9 Romanoff

Savoy Brown - Street Corner Talking (1971)



Kim Simmonds reformulou novamente a banda com o pianista Paul Raymond, o baixista Andy Silvester e o baterista Dave Bidwell, todos saídos do Chicken Shack. Gravaram o LP Street Corner Talking, um dos seus melhores momentos, e partiram para mais uma turnê nos EUA. Esse mesmo lineup gravou em 72 o Lp Hellbound Train. Depois dele o Dave Walker foi para o Fleetwood Mac e Jack Lynton tomou seu lugar.
O Savoy agora adotava um estilo boogie-blues-rock e seguiria com ele daí em diante.
A banda se separou momentaneamente em 73, retornando no ano seguinte, e através dos anos 80 e 90 poderia ser descrita como uma porta giratória, com membros saindo e entrando, mas sempre gravando álbuns interessantes e excursionando sem parar.
Atualmente Savoy Brown é composta por Kim Simmonds,Mario Staiano na bateria,Gerry Sorrentino no baixo e não está baseada na Inglaterra mas na cidadezinha de Oswego,no estado norte-americano de Nova Iorque.

1 Tell Mama
2 Let It Rock (Rock and Roll on the Radio)
3 I Can't Get Next to You
4 Time Does Tell
5 Street Corner Talking
6 All I Can Do
7 Wang Dang Doodle
8 Tell Mama [Single Version]